segunda-feira, 4 de julho de 2011

O homem que confundiu sua mulher com um chapéu

"A palavra favorita da neurologia é déficit, significando deterioração ou incapacidade de função neurológica: perda da fala, perda da linguagem, perda da memória, perda da visão, perda da destreza, perda da identidade e inúmeras outras deficiências e perdas de funções (ou faculdades) específicas. Para todas essas disfunções (outro termo muito empregado) temos palavras privativas de todo tipo — afonia, afemia, afasia, alexia, apraxia, agnosia, amnésia, ataxia —, uma palavra para cada função neural ou mental específica da qual os pacientes, em razão de doença, dano ou incapacidade de desenvolvimento, podem ver-se parcial ou inteiramente privados. 
O estudo científico da relação entre cérebro e mente começou em 1861, quando Broca, na França, descobriu que dificuldades específicas no uso expressivo da fala, a afasia, seguiam-se invariavelmente a um dano em uma parte específica do hemisfério esquerdo do cérebro. Isso abriu caminho para uma neurologia cerebral, que possibilitou, no decorrer de décadas, ”mapear” o cérebro humano, atribuindo capacidades específicas — lingüísticas, intelectuais, perceptivas etc. — a centros” igualmente específicos do cérebro. Em fins do século   evidenciou-se aos observadores mais perspicazes—sobretudo Freud, em seu livro Aphasia — que aquele tipo de mapeamento era demasiado simples, que todos os desempenhos mentais possuíam uma intrincada estrutura interna devendo possuir uma base fisiológica igualmente complexa. Freud -julgava que isso era verdade, especialmente no tocante a certos distúrbios do reconhecimento e percepção, para os quais ele cunhou o termo agnosia. A seu ver, o entendimento adequado da afasia ou agnosia exigiria uma ciência nova, mais complexa."

É assim que Oliver Sacks, cientista e neurologista, inicia seu livro, intitulado "O homem que confundiu sua mulher com um chapéu". 


O livro traz 24 casos clínicos dos mais absurdos, praticamente inimagináveis: pacientes que não reconhecem partes do próprio corpo, chegando a cair da cama ao jogar no chão uma perna "alheia", um assassino que não se recorda dos seus crimes, um músico que percebe os detalhes dos objetos (cor, textura, peso), mas não consegue defini-los, até o caso que dá título a obra, em que o paciente não é capaz de reconhecer rostos, e por isso chega a confundir a esposa com seu chapéu!
Este livro nos traz a um mundo que parece de faz-de-conta, mas que abrange os mistérios do complexo funcionamento do cérebro humano.

Um comentário:

  1. Adoro esse livro, é muito bom para ampliar a visão das sequelas das lesões encefálicas através dos casos reais. Muito bom para qualquer profissional da área da reabilitação, bem como pessoas que tem ou tiveram contato com esse tipo de deficiência.

    Abraços
    Priscila

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